QUANDO ALGUÉM PERGUNTA A UM AUTOR, O QUE ESTE QUIS DIZER, É POR QUE UM DOS DOIS É BURRO.

MARIO QUINTANA

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Os imbecis e a negação partidária.

Ontem, em um momento de raiva ao perceber o podre jogo da mídia em querer manipular as manifestações e fazer dos manifestantes joguetes, meu primeiro impulso foi aconselhar à todos a não mais participar desses movimentos. Admito, estava errada, não é esse o caminho, é impossível nesse momento que grupos politizados e bem orientados abandone as lutas, até por que isso, as deixariam ainda mais nas mãos de grupos fascistas e reacionários. Após me aconselhar com pessoas cuja opinião respeito, ler, e me informar mais sobre como de fato esses movimentos estão acontecendo, percebo, que não dá mais para voltar á traz, o que nos resta agora, é tentar orientar as massas, que loucas saem ás ruas sem propósitos claros, a entenderem o real motivo das manifestações. Mas, qual é o real motivo? Isso não ficará claro enquanto não abrirmos espaço para uma manifestação clara de idéias partidárias. Juro, eu também já achei que eram nos partidos que repousavam as origens de nossas desgraças políticas, em um tempo em que eu simplesmente queria mudar o mundo, sem querer saber de fato, como o mundo era. Hoje está claro pra mim, não é assim que “a banda toca”. Os partidos são o símbolo maior da democracia, é na idéia de partido que conseguimos “organizar” a sociedade em grupos afins e definir de forma clara, como as pessoas pensam, o que de fato elas defendem. Por que afinal, elas lutam. As nossas mazelas políticas não são fruto dos partidos, mas da falta de uma legislação política que os deixem agir de forma clara e ideológica. Impedir a presença de bandeiras de partidos nas manifestações, não impede a presença e os objetivos desses, mas os disfarça em meio à massa. Coloca neonazistas, defensores da ditadura militar, e fascistas de todas as vertentes, nas ruas, ao lado de verdadeiros militantes da democracia e de defensores de uma sociedade igualitária. Penso que nesse momento, para que a vida da imprensa em tentar manipular a opinião pública fique um pouco mais difícil, e essas manifestações tenham um caráter claro, é hora de TODOS OS MILITANTES DEFENDEREM REALMENTE SUA CAUSA, E LEVANTAREM SUAS BANDEIRAS, AINDA QUE SUA CAUSA SEJA O ANARQUISMO. É necessário que as cartas sejam postas sobre a mesa, e esses movimentos tomem seus verdadeiros rumos, sem ficar usando da população bem intencionada, em uma “Marcha com Deus e pela Família” velada.  É pra continuar a manifestar? Então que cada um assuma as cores e as caras de seus partidos, e parem de se esconder atrás de discursos vagos, e objetivos amplos, e tenham um foco, claro, de uma luta dentro dos padrões verdadeiros de democracia. Ou você quer continuar lutando ao lado da juventude PSDB, ou de skinhead’s e reacionários? Não se iluda, não estão todos pela mesma causa, nunca estão. Pra defender a sua causa, você tem que lutar ao lado dos seus, ou será apenas soldado de guerra, de uma luta que não é sua.

Diálogo entre um Manifestante imbecil e um ambulante com grande espírito de empreendedorismo:



Manifestante: Oi moço, o senhor tem água aí?
Ambulante: Tem sim, água, cerveja, refrigerante, tem coca zero também, pra quem tá de dieta, energético e Gatorade.
Manifestante: Legal, to vendo que o senhor tem bastante opção de produtos né? Tem cartaz também?

Ambulante: Tem sim, vários, é só escolher, tem esse aqui, “Abaixo a PEC 37”, tá saindo demais viu. Tem esse aqui, “Queremos hospitais nos padrões FIFA”, “Transporte gratuito já”, “Fora Dilma”, “Fora Hulk”, “Fora Felipão”, “aha uhuhu, Feliciano eu vou comer seu bolo”... Esses aqui são feitos exclusivos para essas manifestações, agora, eu to fazendo uma super promoção com esses cartazes que sobraram de outras manifestações passadas: “Fora Collor”, “Pão, paz e terra”, “Todo poder aos sovietes”, “Liberdade ainda que tardia”, ou ainda nessa pegada de liberdade temos esse: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, e um que nunca sai de moda, é esse do Che Guevara: “Hay que endurecer, pero si  perder la ternura jamás.” Esse inclusive, se você tiver cuidado, pode guardar para outras manifestações futuras. E para a galera do estrangeiro que veio aí curtir a Copa, e tá aproveitando pra participar das manifestações, nós temos essa aqui também, que é ótima: “There are only twenty cents”.  E claro, agente também tem a opção de camisetas silcadas.

 

Manifestante: Camisetas?

Ambulante: Sim, temos várias, para quem é mais magrinho, tem essas aqui, com trechos do Hino Nacional, pra quem é um pouquinho maior, tem umas aqui com poesia do Gonçalves Dias, tem com música do Cazuza, agora pra moçada plus size, tem essa aqui com a música Faroeste Cabloco, que tá fazendo o maior sucesso.

 

Manifestante: Legal, essa aí do Faroeste Caboclo vem com a foto da Ísis Valverde?

Ambulante: Não, não vai, mas se você quiser, o meu amigo ali de dread, que tá fazendo tatoo de hena na galera, é irmão meu, tá colado com nós aqui, ele desenha super bem, faz o desenho na camiseta. Tem também tatoo de tiro de bala de borracha, fica ótima na foto e a gente passa tudo aqui, na mesma maquineta de cartão.

 

Manifestante: Ah, tatoo de hena, uai, gostei demais aí, faz de tudo?

Ambulante:  De tudo, tá saindo muito aí frases, como já te falei, as frases estão muito na moda, mas, faz rosto também, agora mesmo tem um chegado fazendo a tatoo com a cara do Joaquin Barbosa, se sabe né? O cara virou herói, depois daquela do mensalão. Tá bombando. E também tá colado aqui com a gente o chegado ali, que faz serviço tipo de lambe-lambe, sabe lambe-lambe? Então, ele tira foto aí, de você com sua galera, empresta bandeira do Brasil, ajuda a fazer uma pose legal, e posta no facebook na mesma hora com uns dizeres bem legais, é só você dizer o que que tá defendendo, ele faz um trabalho de primeira aí.

Manifestante: Como assim, o que eu to defendendo?

Ambulante: Uai cara, sua causa, qual que é?

Manifestante: Ah sei lá cara, umas coisas assim tipo, to lutando contra essas coisas erradas todas aí sabe, esse país é ridículo, tem que meter o pé em tudo.

Ambulante: Entendo, entendo, o senhor não tem uma causa exclusiva, tá lutando contra tudo?

Manifestante: É tipo isso.

Ambulante: Bacana, tem uma galera grande aqui assim. Então, pra esse tipo de luta ele posta sua foto com umas frases bem legais, tipo: “Pelo fim da corrupção”, ou “Pela paz mundial”. Eu não sei se o senhor sabe, mas esse negócio de foto de manifestação no face, faz o maior sucesso com as gatinhas né? Pois é, as mina andam engajadas, nessas lutas, é essa moda aí de sustentabilidade né? Cê fraga né? Essa parada aí de sustentabilidade né?

Manifestante: Hum, frago sim.

 

Ambulante: Agora, se o senhor gostar de uma coisa mais VIP, aí a gente pode fazer uma super  promoção viu. Eu tenho aqui esse abadá todo trabalhado em TNT, e se o senhor, posso te chamar de senhor né?, então, se o senhor comprar o abadá, a gente ainda te escolta até lá na frente, onde estão o povo da televisão, lá não tem como o senhor não sair no Jornal Nacional, é certo, e ainda ganha de brinde esse cartaz: “Mãe, to na Globo”, ou “Galvão, filma eu”, é só escolher.

 

Manifestante: Área VIP? Uai, gostei. Tem famoso lá?

Ambulante: Famoso, famoso não têm , mas tem uma galera lá, que serão os próximos candidatos á vereadores e deputados nas próximas eleições né? Então, se o senhor quiser, já pode contar como famoso.

 

Manifestante: Verdade, seria legal sair em uma foto do lado desses caras né?

Ambulante: Sempre é né. Tem que ter visão de futuro né?

Manifestante: O senhor tá certo.

Ambulante: Tô aprendendo muito aqui, tem uma galera universitária muito bacana, já aprendi umas palavras bem difíceis, bem legal, o senhor sabe né, temos que ser pragmáticos. O senhor sabe o que é pragmático não sabe?

Manifetsnte: Hum, que mais o senhor tem aí?

Ambulante: Uai, tem vinagre, tem máscara de carvão ativado, tem apito, e tem caxirola, a caxirola inclusive to em uma mega promoção. O senhor compra duas e leva três. Caxirola ficou barato né, a FIFA mandou proibir a caxirola nos estádios, então deu uma caída no preço, o senhor sabe, né, lei da oferta e da procura. Então, e se o senhor quiser algo mais revolucionário, eu não, Deus que me livre, eu não mexo com essas coisas, mas, o meu amigo ali, da tatoo de hena, vende aquele negócio sabe? O orégano que o capeta tempera pizza? Sabe? Já vem enrolado e tudo, pro senhor não ter trabalho.

Manifestante: Tá, eu vou querer sim, e me vê também, três cartazes, dois abadás, um camisa do Cazuza, três tatoos, cerveja, refrigerante, água, e duas caxirolas,a terceira é brinde né?

Ambulante: É sim senhor.

Manifestante: Beleza, quanto dá tudo?

Ambulante: Depende, o senhor é de direita ou de esquerda?

Manifestante: Como assim?

Ambulante: Não, por que quem é de esquerda, tem desconto né. Afinal a gente tem que defender quem defende a gente, o senhor não me leve a mal, mas, cada um defende o seu lado né? E eu to aí apoiando a galera da esquerda. Se o senhor for de direita, aí o preço é o mesmo, sem desconto, mas também sem desonestidade. O senhor é de esquerda ou direita?

Manifestante: Eu... não sei moço, eu sou de centro.

Ambulante: Gostei do senhor, é honesto, podia até tentar falar que é de esquerda pra ganhar o desconto, tá na cara que não é, mas, podia ter mentido. Como o senhor é de centro, e não mentiu, eu vou tentar te ajudar, te dou mais uma caxirola, e parcelo tudo de seis vezes no Visa ou o Mastercard, te ajuda?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



Eu quero a Copa.



De tudo, o que mais me intriga em todas essas manifestações é a afirmação de que NÃO queremos COPA. Não? Não queremos? Desde quando? Quem afinal não quer? Quer saber? EU QUERO. Não, não gosto de futebol, mal sei falar o nome de cinco jogadores da seleção, alias, tenho um discurso muito elaborado sobre como a cultura do futebol tem, na minha opinião, prejudicado em muito a educação no país. Mas, não é isso que vem ao caso, eu quero dizer, que quando se falou em o Brasil sediar a Copa, eu fui contra, sim, fui, não ví nada de positivo nisso. Eu e um monte de gente, mas não me lembro de ninguém na rua com um cartazinho nas mãos escrito "Não queremos Copa no Brasil", mas agora, a mídia tem gastado muito de seu tempo para dizer que o brasileiro não quer a Copa no Brasil.
Não quer? Quem não quer? Agora, que rios de dinheiro já saíram dos cofres públicos, COM O NOSSO CONSENTIMENTO? Eu acho tudo muito engraçado. Quando se cogitou Copa no Brasil, os grandes empresários, os grandes milionários TODOS, comemoraram felizes os grandes lucros que teriam, e agora, esses mesmos, por meio da grande mídia querem convencer o povo a sabotar a Copa? Porque? Ninguém para pra se perguntar sobre isso?
Então deixa eu explicar algumas coisas básicas. A primeira é que sim, existe uma grande diferença entre esquerda e direita, quem tenta negar tudo isso, é simplesmente essa burguesia endividada que tem a vida toda financiada, e se sente muito melhor do que quem recebe Bolsa Família, e apóia governos de direita e de esquerda de acordo com suas conveniências sociais. Mas sim a DIREITA existe, e ela representa os desejos de pessoas RICAS, muito RICAS. E essa é a outra coisa que eu queria dizer. Não, ricos não existem só na televisão. Eles existem de verdade, eles mandam na televisão, e eles são mega unidos, muito unidos, por que diferente de muitos dos árduos defensores do marxismo eles já entenderam que a vida é uma eterna luta de classes e eles sabem muito bem, de que lado dessa luta eles estão. E pode acreditar, não é do seu, beneficiário do Bolsa Família, não é do seu, classe B endividada, não é do meu trabalhador pobre. Eles estão do lado deles.  Pois bem. Se a Copa não acontecer, quem ganha, não sou eu, (trabalhador pobre), não é você (trabalhador burguês), muito menos os ainda mais pobres, quem ganham são eles, os grandes milionários, acredite, eu sei o que estou dizendo.
Pare pra pensar um minuto, só um minuto. Nenhum hotel, nenhum estádio, nada foi construído com dinheiro privado, foi tudo construído com dinheiro público. O meu, o seu, o de todos. Os grandes milionários financistas desse país, não apostaram NENHUM centavo nessa Copa, se a Copa não acontecer, quem fica no prejuízo? Quem? Você acha que eles (os grandes milionários), irão pagar pelos prejuízos dessa Copa? Há, há, há. Não, eles não vão. Eles irão alegar que foram vítima do caos, que interessante um caos. O caos é sempre uma grande oportunidade de enriquecimento, sobretudo pra quem já é muito rico. Se ninguém sabe ainda, eu vou explicar como um rico fica rico, um rico fica rico, aproveitando oportunidades, se as oportunidades não vêem, eles podem muito bem criar uma. Mas, vamos voltar ao assunto. Se a Copa não acontece, esses milionários, além de não devolverem o dinheiro para os cofres públicos, ainda nadaram de braçada na desvalorização imobiliária louca que irá acontecer. (Outra regrinha básica sobre como os ricos ficam muito mais ricos, eles compram muito barato, e vendem muito caro). Não, não estou sendo fatalista, é só um aviso, se você fuder com a Copa, estará fudendo com você mesmo. Por que não, burguês endividando, você não vai conseguir comprar hotéis e estádios baratos, por que por mais barato que eles estiverem sendo vendidos, não, o seu cartão de crédito, não terá limite para comprar. Entendeu? E claro, vai fuder com a vida do pobre, (eu e a grande maioria da população), ou vocês acreditam que esse rombo nos cofres públicos vai beneficiar a criação de escolas e hospitais no Padrão FIFA?

Acorda gente. O povo quer Copa sim. O povo é o maior financiador da Copa. Não caiam nesse papo, parem de se comportar como zumbis acéfalos, escutem a voz da razão, em meio ao caos, o rico só tende a ficar ainda mais rico, e o pobre, muito mais pobre. E outra coisinha, só pra esclarecer, você não é rico. Você, burguesinho classe B de vida financiada, não se iluda, você não é rico. 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

SIM EU SOU A FAVOR DA AMPLA LEGALIAÇÃO DO ABORTO, e quero deixar isso claro, assim mesmo em letras garrafais. Sim, eu defendo a ampla legalização do aborto, não por ser contra o direito a vida, ou por achar bacana fotos de fetos jogados em esgoto, como tantos adoram publicar em redes sociais. Eu sou a favor da ampla legalização do aborto, por que A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO É UM GRANDE PASSO NA BUSCA DO RECONHECIMENTO DA IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES. E não, não estou falando nenhum absurdo, e não, não estou possuída pelo diabo. A gravidez indesejada ainda é uma punição que apenas a mulher recebe pelo ato sexual irresponsável. E sim, se estamos falando de um filho indesejado, fruto de uma relação sexual desprotegida, que só à mulher vai caber educar, cuidar e proteger por força de lei, então, sim, estamos falando em castigo. E não, não estou sendo radical demais, e nem desumana. Desumanas são as nossas leis sexistas. O mesmo país que proíbe o aborto é o que garante por lei o dever legal, dos pais zelarem pela educação, saúde e segurança de seus filhos. Dos pais, quais pais? Apesar de a lei falar sobre a educação legal dos pais, a nossa cultura machista está sempre cobrando das mães, e apenas das mães o dever moral de zelar pelos seus filhos, sejam eles desejados ou não. O que seria justo, muito justo, se essa cobrança fosse feita à ambos genitores. O homem pode simplesmente se eximir da obrigação, afinal, não existem leis que obriguem a qualquer homem amar, educar, e proteger seus filhos. Ou alguém acha que a obrigatoriedade do pagamento de pensão obriga algum homem a participar da criação de seus filhos? Conheço vários homens que tem filhos fora do casamento, e contribuem com apenas com o valor da pensão estipulado ao juiz, mal se preocupa em se lembrar do dia do aniversário da criança. Oras, a ele foi dado o direito de não querer aquele filho, e à mãe? A ela foi dado esse direito? Se ela iria optar por gestar, gerar, criar e amar essa criança, é outra questão. A pergunta aqui é: Por que a ela é negado o direito de decisão. E não sejamos hipócritas em dizer que a mulher tem um dever moral de olhar e zelar por suas crias, por força de seu “instinto materno”. Isso é hipocrisia, vivemos em uma sociedade que se diz “civilizada” onde se encaixa o discurso sobre instintos no “planeta homem”? É pra falar de instintos? Então tá, e o instinto de preservação da vida? O instinto de preservação da espécie?  As mulheres são as únicas responsáveis morais por manter a vida no planeta? São elas que, querendo ou não, precisam dedicar sua vida à criação de um ser humano e manter a vida no planeta? Não, eu não sou um monstro, e não detesto crianças, pelo contrário, tenho considerado bem pontualmente, e bem apaixonadamente a idéia de ter um filho, uma vida, um fruto de um relacionamento verdadeiro, que eu possa amar, educar, e passar um pouco dos meus valores, como forma de minha continuidade e continuidade da vida de meu parceiro no planeta. Mas não, não são as paixões e os acalorados discursos religiosos que devem servir de base para uma discussão política e social tão importante. Estamos falando em IGUALDADE de direitos. Estamos falando em uma sociedade em que a mulher deixe de ser apenas escrava de homens e filhos, em um sentido global e seja senhora de seu destino, com direitos e deveres iguais. Só teremos uma sociedade igualitária quando a sociedade olhar para os homens e dizer: “TOMA QUE O FILHO TAMBÉM É TEU”. Enquanto esse dia não chega, cabe à lei, dar à mulher a mesma possibilidade que a cultura dá aos homens, a de simplesmente escolher não ter o filho indesejado. E isso é fato. Mas, se por acaso, você se recusa a abrir sua mente para o reconhecimento de que essa impossibilidade legal ( de não querer uma criança) abriga um legado de injustiças, pense um pouco na crueldade de uma lei, que obriga uma mulher vítima de estupro de gerar, zelar, e principalmente AMAR, o fruto de uma violência, de uma relação não consentida. Ou alguém acha que não existe na obrigação legal de cuidar de uma criança, a obrigação de amá-la? É possível a uma mãe criar de forma saudável um ser humano, criá-lo de forma a estar apto à conviver com o outro em sociedade, sem uma verdadeira relação de amor? E o pai? O estuprador? Qual legado vai levar dessa violência além do prazer momentâneo e a, comumente, sensação de impunidade? Desde o início da construção de nossas sociedades, a mulher é contabilizada junto à bois, vacas, e escravos, como propriedade. Uma mulher vítima de um estupro era, na antiguidade, morta, ou abandonada à prostituição. E hoje? Quantas mulheres são estupradas e não tem coragem nenhuma de contar para alguém para que não lhe seja perguntado de forma condenatória sobre a roupa que estava vestindo, e sobre o lugar onde estava andando. Quantos estupradores, lançam todos os dias, mulheres à prostituição, ao abandono, à miséria? Após algum tempo um estuprador, pode se livrar de seu passado violento, ou pelo menos disfarçar sua índole agressora. Muitos se casam, tem famílias, se convertem para determinadas religiões, tornam-se verdadeiros bastiões da moral e dos bons costumes. E a vítima desse estupro, que carrega em seus braços o filho de um homem que não conhece, que mal sabe onde está andando, o do qual só tem lembranças de horror? Quem livra essa mulher do estigma de estuprada? Quem apagará da vida dela a sua condição? Quem zelará pela sua saúde psicológica e a de seu filho? O Estado? Com seu salário mínimo, com uma “indenização estupro”, ao qual muitos ainda se levantam para condenar com o discurso podre: “Ah! Agora um monte de mulher vai falar que foi estuprada só pra receber pensão do governo, até eu queria ser mulher agora”. Eu quero que alguém me responda o que existe de humano em uma lei que pune uma vítima de estupro.  Uma lei que condena a mulher simplesmente por ser mulher. Onde está o respeito à vida? Esse tipo de lei, só mostra o óbvio, a intolerância sexual. O reconhecimento da superioridade de homens perante mulheres. E não me venham falar das mulheres que legitimam esse reconhecimento, por que é historicamente sabido que o dominado, por força de opressão e por repetição ideológica, acaba, muitas das vezes, se apropriando do discurso do dominador. Mas, eu NÃO, eu quero levantar aqui a minha bandeira e dizer, EU SOU LIVRE, EU SOU HUMANAMENTE TÃO IMPORTANTE QUANTO QUALQUER HOMEM, MINHA VIDA MERECE RESPEITO COMO A DE QUALQUER HOMEM, E EU EXIJO QUE A LEI RECONHEÇA ISSO. Eu exijo uma lei menos machista e mais verdadeiramente igualitária.  

Monique Pacheco

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Não é bom morar em Pasárgada.

Desde criança eu fico imaginando o que seria a maravilha de viver em um lugar fantástico como Pasárgada. Lembram-se, da Pasárgada de Manoel Bandeira? "Vou-me embora pra Pasárgada /Lá sou amigo do rei/Lá tenho a mulher que eu quero/ Na cama que escolherei". Pois é, hoje eu sei o que é morar em Pasárgada e sei bem que Pasárgada pode ser um verdadeiro paraíso para quem é amigo do rei, mas pode também ser um reduto de injustiça e discriminação, ou seja, um inferno, para quem não é. Pois bem, eu não sou amiga do rei, e por isso estou sentindo na pele o sofrimento de viver em uma cidade que tem sua administração voltada aos interesses de um grupo em detrimento dos direitos da maioria. O que temos assistido desde o início desde governo (e que já não faz muito tempo), é um verdadeiro oba-oba com recursos públicos. De todas as promessas de campanha as únicas que o caríssimo prefeito tem cumprido com afinco são as de emprego. As repartições públicas estão lotadas de GERENTES, não, não são apenas funcionários com salários medianos, são GERENTES, com altos salários, que nem de longe correspondem às atribuições dos cargos. Novas secretarias sendo criadas todos os dias, aumento de 25% sobre o salários dos altos escalões, gente completamente incapacitada, me perdoem a minoria qualificada que está trabalhando nessa prefeitura, mas o que eu tenho visto é um monte de gente que mal consegue preencher um formulário, ocupando cargos de confiança com altíssimos salários. A secretaria de educação de Contagem tem DOIS secretários adjuntos, eu nunca ouvi falar de uma "farra do boi" como essa, tá uma verdadeira putaria, sinceramente ando até com medo de castigo divino, por que, por muito menos do que isso, Deus destruiu Sodoma e Gomorra. A saúde e a educação como era de esperar pagando o preço pelo "trenzinho da alegria" e a prefeitura fazendo propaganda enganosa sobre sua administração. Chegaram inclusive ao absurdo de colocar nos jornais em comemoração aos 100 dias de governo que haviam reduzido o horário de trabalho do setor administrativo das escolas para 30 horas (uma das principais promessas de campanha, inclusive, propagadas pelo próprio sindicato), uma grande e escancarada MENTIRA, por que já estamos com mais de cinco meses de governo e até hoje isso não aconteceu. Os kits escolares, que para o bem da verdade, nunca chegaram em fevereiro, serão, (segundo promessas do prefeito) entregues até a próxima semana, (final de maio) um verdadeiro absurdo, nunca antes visto nessa cidade, e ainda com a recomendação de que os dirigentes tirem fotos para mais uma PROPAGANDA ( PSDB tá deixando sua marca registrada na forma de governar do Partido Comunista de Contagem). O que os professores e funcionários da saúde estão pedindo, não é benesse, nem favor, é o seu direito anual de correção salArial de acordo com os índices da inflação, e o reizinho e sua ENORME corte, alegam, não ter dinheiro para pagar o que é de direito dos trabalhadores. É claro que não têm, Luís XVI também não tinha, é impossível manter compromissos administrativos, engordando uma corte luxuosa como a que tinha na França pré-revolucionária, e como a que temos na Contagem "Pós-Revolucionária", afinal, não era isso que os nossos "queridíssimos" comunistas prometiam? Uma revolução? Que beleza de revolução essa, que institucionaliza uma cidade estratificada, com clara divisão de castas e com privilégio da "nobreza". Resolveram reinventar o Antigo Regime. Contagem, sinceramente, não merecia um retrocesso como esse. Monique Pacheco

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Por favor, menos hipocrisia, pode ser?

Eu não agüento mais tanta mensagem de repúdio á decisão sensata e até mesmo atrasada do STF em legalizar o aborto de anencéfalos. As pessoas tem postado em redes sociais mensagens absurdamente maniqueístas , comopiniões de caráter religioso, criticando a nova legislação, e tratando o tema, que é tão delicado, com um romantismo que beira ao ridículo. Não estamos falando em infanticídio, estamos falando em direito à vida, e não podemos desconsiderar a vida e condição emocional da mãe, como se tratasse de um capricho cruel.
Eu chego a ficar com nojo de tanta hipocrisia, eleitores hipócritas, criam um Estado hipócrita, em que as leis nunca representam o povo que somos, mas sim, o povo que queríamos ser. É obvio que uma mulher deve ter o direito de decidir se quer ou não gestar uma criança fadada ao óbito, em horas, dias, com azar, meses após o nascimento. É óbvio que a mulher deve decidir se vai querer um velório de nove meses ou não. Não acho que todas devem fazer o aborto, não sei se eu faria. Algumas certamente vão escolher levar a gestação até o fim, por altruísmo religioso, ou social, na intenção de doar órgãos para salvar outra vida, ou por qualquer outro motivo íntimo e pessoal. Mas é lícito o direito de escolha. Nenhuma mulher deve ser castigada por estar grávida. Gravidez não é castigo por um ato sexual, e filho não é benção, como adoram dizer por aí. Filho é escolha. Enquanto as pessoas não começarem a pensar assim, não vamos caminhar para uma sociedade mais igualitária e desenvolvida.
Eu acho que essa decisão, ainda é só o começo para se repensar a lei sobre o aborto no Brasil. Devemos pensar que vivemos em um Estado laico, que deve ter sua legislação baseada nos interesses públicos, e não nos dogmas religiosos. As nossas leis que tratam sobre o aborto ainda são, como nós brasileiros, machistas e preconceituosas. Vivemos em uma sociedade que culturalmente delega á mulher a obrigação de levar uma vida de renuncias por amor ao filho. Se a gravidez é indesejada, se foi feita por um ato de irresponsabilidade de duas pessoas, as conseqüências, em geral, são sofridas apenas pela mulher e pela criança. Os homens, a grande maioria deles, se sentem desobrigados de manterem financeira e/ou psicologicamente os frutos dessa irresponsabilidade. A maioria dos homens que enchem a boca pra criticar o aborto, são os mesmos que abandonam seus filhos á própria sorte, delegando a função de educá-los única e exclusivamente á mãe, que por vezes delega essa função à terceiros. Eu sei o que estou dizendo, eu vejo isso todos os dias na periferia onde eu trabalho. Famílias que começam em um repente e que só fazem a acrescentar aos piores indicadores sociais.
Eu sou a favor da legalização ampla do aborto. Não sou a favor do aborto, mas sou a favor de uma lei que garanta proteção e respeito á mulheres que por isso optarem. Ninguém faz aborto por capricho,ninguém engravida planejando passar por um processo tão doloroso física e psicologicamente. Ninguém deixa de fazer aborto por ser proibido, ninguém faria aborto simplesmente pelo fato de ser liberado. É tudo muito mais sério e complexo que isso. É uma hipocrisia imensurável pensar que a lei vai incentivar o aborto. Todo mundo sabe, que quem quer fazer aborto no Brasil, faz. Proibir não coíbe, se fosse assim, não existiriam tantos usuários de droga ilícitas. Proibir apenas beneficia uma minoria que sobrevive da mazela de uma maioria. As clínicas clandestinas e os remédios abortivos, estão aí, ao acesso de quem puder pagar. Em falta de condições financeira para esses recursos, ainda é possível lançar mão da ajuda de “fazedoras de anjos”, que em condições de higiene, técnica e instrumentos precários, fazem “cirurgias” abortivas em suas próprias casas, por uma bagatela. Neste exato momento, dezenas de centenas, talvez dezenas de milhares de mulheres devem estar se sujeitando a alguma “técnica” abortiva. Muitas delas irão morrer, e ser veladas e enterradas como vilãs. Julgadas e punidas pela opinião alheia sem o mínimo de compaixão. O Estado jamais poderá fazer nada por elas. Por que para o Estado, elas são invisíveis. Apenas uma lei de regulamentação do aborto, séria e humanizada, poderia criar meios de quantificar m qualificar o aborto no Brasil. Só essa quantificação e qualificação, levaria a identificação de quem e por que se faz aborto no Brasil, e só assim poderíamos criar meios, políticas públicas eficientes de prevenção.
Eu conheço mulheres que já fizeram aborto, todo mundo deve conhecer. Não conheço nenhuma que se orgulhe disto, nenhuma que deseje fazer de novo. Mulheres que tem profissão, dignidade, fé em Deus, que tem uma capacidade imensa de amar, incapazes de fazer mal a um animal que for. Mulheres como eu,como você, sua mãe, sua esposa, sua irmã, como um monte que encontramos por aí, que não são vilãs, e que não devem e não podem ser tratadas assim. Mulheres que pagam seus impostos e que colaboram para o progresso de um Estado que deveria, pelo menos na teoria, criar leis que as protegessem, e que não as incriminassem, que não as punisse pelo simples fato de serem mulher.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Jair Bolsonaro, o político que todo mau político deveria ser.

Jair Bolsonaro, o político que todo mau político deveria ser.

Às vésperas do pleito eleitoral de 2010, o comediante da MTV, Marcelo Adnet, popularizou um interessante personagem, o “político sincero”. De forma cômica o personagem lançava sua candidatura com frases do tipo: “Se eleito, irei cuidar de roubar muito, de votar leis que interesse a mim e a meus amigos, e de me aproveitar de todas as oportunidades para me dar bem”. Em algumas cenas dizia inclusive detestar minorias, todas elas, raciais, sexuais, religiosas...

Era apenas uma piada, mas eu adoraria que fosse verdade. Adoraria ouvir de todos os candidatos eleitorais o que realmente pensam e desejam em relação à sociedade e a política. Infelizmente não é assim, em véspera de eleição, todos eles se vestem em pele de carneiros. Sobem os morros, abraçam e beijam crianças pobres, desfilam em paradas gays, e se escondem atrás de discursos recheados de comprometimento social e ético tão poderosos que acabam por cumprir sua função de iludir e ludibriar os eleitores.

Nas últimas semanas, no entanto, um politico sincero acabou chamando a atenção da mídia por suas declarações racistas e homofóbicas. O tal político sincero é, o já conhecido, Jair Bolsonaro, deputado federal pelo Rio de janeiro, ( já no sexto mandato consecutivo e curiosamente, integrante da Comissão dos Direitos Humanos da câmara). Bolsonaro é o tipo de político retrógrado e conservador, que não esconde sua aversão à diferença.

Defende, dentre outros absurdos, a tortura, a pena de morte, a bomba atômica, a agressão física a homossexuais e usuários de drogas, e a censura. É contra as cotas raciais, á política de proteção indígena (aos quais se refere como fedorentos ignorantes, não falantes de nossa língua e não merecedores de porções de terra da nação). Diz sentir saudades do governo Médice e da ditadura militar, e condena a lei que proíbe pais de castigarem fisicamente seus filhos.

Acredito que Bolsonaro não é o único, nem o último, congressista racista, preconceituoso, homofóbico e sexista do país. Muitos outros, certamente, comungam de suas vergonhosas opiniões. Mas, para nosso azar, nem todos se orgulham disso, a ponto de escancarar ideias tão agressivas na mídia. A grande maioria se esconde atrás de frases feitas, para tentar convencer os eleitores de que são comprometidos com o bem estar público, das maiorias e das minorias.

Meu sonho é que houvessem mais políticos assim. Que mais Bolsonaros colocassem suas manguinhas de fora, e vomitassem em rede nacional suas reais concepções sobre os direitos humanos. Seria muito mais fácil fugir desse tipo de gente. E principalmente, seria muito mais fácil quantificar o preconceito e a deficiência da formação cidadã no país.

Em uma busca rápida pela web, encontra-se um sem número de fãs de Bolsonaro. Poucos assumem sua identidade. Mas declaram admirá-lo, como admiram Hitler, Mussolini, Stálin, e outros extremistas históricos. Quando, em uma próxima eleição, o tal “bastião da moral” for candidato, por meio de seus votos, pode-se mensurar a proporção que atinge tais ideias. Seus eleitores não mais poderão se esconder atrás da máscara de enganados. Terão que assumir, que como ele, defendem um país segregador e fascista.

Eu por minha vez, agradeço a cara de pau de Jair Bolsonaro. Do fundo do meu coração. E mais, encorajo a todos aqueles que pensam como ele, de também irem a TV, dizer que bater em criança “boiola” transforma-as em homens de verdade, e que seus filhos não se relacionariam com mulheres negras por que foram bem educados. Porque, sinceramente seu Jair, “ se todo mau político fosse igual a você, que maravilha seria votar”.



MONIQUE PACHECO

Professora e Bacharel em historia pela PUC-MG

e-mail: moniquenajara.pacheco@yahoo.com.br

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