QUANDO ALGUÉM PERGUNTA A UM AUTOR, O QUE ESTE QUIS DIZER, É POR QUE UM DOS DOIS É BURRO.

MARIO QUINTANA

sexta-feira, 14 de junho de 2013

SIM EU SOU A FAVOR DA AMPLA LEGALIAÇÃO DO ABORTO, e quero deixar isso claro, assim mesmo em letras garrafais. Sim, eu defendo a ampla legalização do aborto, não por ser contra o direito a vida, ou por achar bacana fotos de fetos jogados em esgoto, como tantos adoram publicar em redes sociais. Eu sou a favor da ampla legalização do aborto, por que A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO É UM GRANDE PASSO NA BUSCA DO RECONHECIMENTO DA IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES. E não, não estou falando nenhum absurdo, e não, não estou possuída pelo diabo. A gravidez indesejada ainda é uma punição que apenas a mulher recebe pelo ato sexual irresponsável. E sim, se estamos falando de um filho indesejado, fruto de uma relação sexual desprotegida, que só à mulher vai caber educar, cuidar e proteger por força de lei, então, sim, estamos falando em castigo. E não, não estou sendo radical demais, e nem desumana. Desumanas são as nossas leis sexistas. O mesmo país que proíbe o aborto é o que garante por lei o dever legal, dos pais zelarem pela educação, saúde e segurança de seus filhos. Dos pais, quais pais? Apesar de a lei falar sobre a educação legal dos pais, a nossa cultura machista está sempre cobrando das mães, e apenas das mães o dever moral de zelar pelos seus filhos, sejam eles desejados ou não. O que seria justo, muito justo, se essa cobrança fosse feita à ambos genitores. O homem pode simplesmente se eximir da obrigação, afinal, não existem leis que obriguem a qualquer homem amar, educar, e proteger seus filhos. Ou alguém acha que a obrigatoriedade do pagamento de pensão obriga algum homem a participar da criação de seus filhos? Conheço vários homens que tem filhos fora do casamento, e contribuem com apenas com o valor da pensão estipulado ao juiz, mal se preocupa em se lembrar do dia do aniversário da criança. Oras, a ele foi dado o direito de não querer aquele filho, e à mãe? A ela foi dado esse direito? Se ela iria optar por gestar, gerar, criar e amar essa criança, é outra questão. A pergunta aqui é: Por que a ela é negado o direito de decisão. E não sejamos hipócritas em dizer que a mulher tem um dever moral de olhar e zelar por suas crias, por força de seu “instinto materno”. Isso é hipocrisia, vivemos em uma sociedade que se diz “civilizada” onde se encaixa o discurso sobre instintos no “planeta homem”? É pra falar de instintos? Então tá, e o instinto de preservação da vida? O instinto de preservação da espécie?  As mulheres são as únicas responsáveis morais por manter a vida no planeta? São elas que, querendo ou não, precisam dedicar sua vida à criação de um ser humano e manter a vida no planeta? Não, eu não sou um monstro, e não detesto crianças, pelo contrário, tenho considerado bem pontualmente, e bem apaixonadamente a idéia de ter um filho, uma vida, um fruto de um relacionamento verdadeiro, que eu possa amar, educar, e passar um pouco dos meus valores, como forma de minha continuidade e continuidade da vida de meu parceiro no planeta. Mas não, não são as paixões e os acalorados discursos religiosos que devem servir de base para uma discussão política e social tão importante. Estamos falando em IGUALDADE de direitos. Estamos falando em uma sociedade em que a mulher deixe de ser apenas escrava de homens e filhos, em um sentido global e seja senhora de seu destino, com direitos e deveres iguais. Só teremos uma sociedade igualitária quando a sociedade olhar para os homens e dizer: “TOMA QUE O FILHO TAMBÉM É TEU”. Enquanto esse dia não chega, cabe à lei, dar à mulher a mesma possibilidade que a cultura dá aos homens, a de simplesmente escolher não ter o filho indesejado. E isso é fato. Mas, se por acaso, você se recusa a abrir sua mente para o reconhecimento de que essa impossibilidade legal ( de não querer uma criança) abriga um legado de injustiças, pense um pouco na crueldade de uma lei, que obriga uma mulher vítima de estupro de gerar, zelar, e principalmente AMAR, o fruto de uma violência, de uma relação não consentida. Ou alguém acha que não existe na obrigação legal de cuidar de uma criança, a obrigação de amá-la? É possível a uma mãe criar de forma saudável um ser humano, criá-lo de forma a estar apto à conviver com o outro em sociedade, sem uma verdadeira relação de amor? E o pai? O estuprador? Qual legado vai levar dessa violência além do prazer momentâneo e a, comumente, sensação de impunidade? Desde o início da construção de nossas sociedades, a mulher é contabilizada junto à bois, vacas, e escravos, como propriedade. Uma mulher vítima de um estupro era, na antiguidade, morta, ou abandonada à prostituição. E hoje? Quantas mulheres são estupradas e não tem coragem nenhuma de contar para alguém para que não lhe seja perguntado de forma condenatória sobre a roupa que estava vestindo, e sobre o lugar onde estava andando. Quantos estupradores, lançam todos os dias, mulheres à prostituição, ao abandono, à miséria? Após algum tempo um estuprador, pode se livrar de seu passado violento, ou pelo menos disfarçar sua índole agressora. Muitos se casam, tem famílias, se convertem para determinadas religiões, tornam-se verdadeiros bastiões da moral e dos bons costumes. E a vítima desse estupro, que carrega em seus braços o filho de um homem que não conhece, que mal sabe onde está andando, o do qual só tem lembranças de horror? Quem livra essa mulher do estigma de estuprada? Quem apagará da vida dela a sua condição? Quem zelará pela sua saúde psicológica e a de seu filho? O Estado? Com seu salário mínimo, com uma “indenização estupro”, ao qual muitos ainda se levantam para condenar com o discurso podre: “Ah! Agora um monte de mulher vai falar que foi estuprada só pra receber pensão do governo, até eu queria ser mulher agora”. Eu quero que alguém me responda o que existe de humano em uma lei que pune uma vítima de estupro.  Uma lei que condena a mulher simplesmente por ser mulher. Onde está o respeito à vida? Esse tipo de lei, só mostra o óbvio, a intolerância sexual. O reconhecimento da superioridade de homens perante mulheres. E não me venham falar das mulheres que legitimam esse reconhecimento, por que é historicamente sabido que o dominado, por força de opressão e por repetição ideológica, acaba, muitas das vezes, se apropriando do discurso do dominador. Mas, eu NÃO, eu quero levantar aqui a minha bandeira e dizer, EU SOU LIVRE, EU SOU HUMANAMENTE TÃO IMPORTANTE QUANTO QUALQUER HOMEM, MINHA VIDA MERECE RESPEITO COMO A DE QUALQUER HOMEM, E EU EXIJO QUE A LEI RECONHEÇA ISSO. Eu exijo uma lei menos machista e mais verdadeiramente igualitária.  

Monique Pacheco

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