QUANDO ALGUÉM PERGUNTA A UM AUTOR, O QUE ESTE QUIS DIZER, É POR QUE UM DOS DOIS É BURRO.

MARIO QUINTANA

terça-feira, 4 de maio de 2010

Até quando seremos racistas?

Para mim não existe prova maior do quanto nosso país ainda é subdesenvolvido, do que o fato de sermos racistas. E antes que alguém tente se defender da generalização, reafirmo, somos racistas e negros.
Aliás, a primeira coisa que devemos esclarecer é que, somos racistas, exatamente por sermos negros. Afinal, quem quer ser negro nesse país? Quem quer fazer parte dessa história de exclusão e exploração que persiste em se reproduzir? Quem quer ser herdeiro desse legado de apartação? Ninguém. Por isso preferimos ser pardos, morenos, morenos claros, morenos “chegados”, morenos “fechados”, “cor de jambo”, “marrom bom bom”... Orgulhamo-nos de termos filhos e netos de cabelos lisos, e nos sentimos premiados, por, ora ou outra, recebermos em nossa árvore genealógica um descendente de olhos azuis.
Clarear a pele ao longo das gerações é, para nossa sociedade, ir aos poucos, alcançando uma redenção, uma chance de vencer o preconceito. O próprio preconceito, e o preconceito de uma minoria de pele clara, que se diz branca, se pensa superior, e acaba por ser privilegiada.
Sim, somos racistas, apesar das incansáveis discussões cientificas sobre a questionável existência de raças dentre a espécie humana, somos etnocêntricos, apesar de nosso fenótipo não ser definido, e assim não ser comum a nenhuma determinada etnia, e somos eurocentricos, apesar de a maioria esmagadora do país, nem de longe se enquadrar no nórdigo padrão de beleza europeu.
Podemos até entender, o porquê de tantos paradigmas culturais, apenas com uma simples análise histórica do nosso país. Mas o que não podemos definitivamente é prever por quanto tempo ainda manteremos essa cultura ignorante e hipócrita.
Claro, reconheço, a tentativa de vários setores sociais de encarar o problema de frente, e dar início a uma discussão sobre o tema, com o intuito de tentar eliminar sistematicamente o “racismo” no país, através de discursos e ações de afirmação racial. Mas temo pela possibilidade de uma bipolarização, que ao invés de reconhecer a identidade do brasileiro acabe por reproduzir os errôneos preconceitos raciais ao tentar caracterizar as pessoas de forma a reafirmar indefinidas diferenças, na inútil tentativa de diferenciar negros de brancos.
A tal questão racial no país é hoje, uma dialética entre uma simples e ao mesmo tempo complexa questão de cor de pele, traços faciais e textura de cabelo. Outro dia, ao participar de um curso que propunha projetos de combate ao racismo nas escolas, me preocupei ao escutar uma das palestrantes afirmarem que em um dos congressos em que participou, só havia uma pessoa negra,ela. Tive que confirmar com o colega ao lado se o tal congresso teria sido mesmo no Brasil, e após ouvir que sim, que acontecera em São Paulo, acabei por lamentar não ter tido a oportunidade de questioná-la sobre os parâmetros usados por ela para identificar quem é de fato negro nesse país. Sinceramente, acho muito difícil fazer esse tipo de separação em um país como o nosso. E também não acredito que tal separação traria solução ao nosso problema.
Nosso racismo só irá acabar quando nos livrarmos dessa ignorância classificatória, que se prende em tonalidades e graduações de cores. Somos todos, independente dessa tal tonalidade de pele, e textura dos cabelos, brasileiros, pobres, subdesenvolvidos, oprimidos e escravos de nossa colonização católica e pró elitista. Se todo camburão tem algo de um navio negreiro, nós, brasileiros pobres, independente da cor, estamos a bordo desse camburão. Embarcamos nessa canoa furada, chamada desigualdade social.
Ser racista em um país de mestiços acaba por nos condenar a viver em uma constante guerra civil, muito semelhante àquelas que se passam em vários países da África, e que vivemos por condenar e tentar entender. Negros, pobres e explorados se matando enquanto brancos e ricos se beneficiam de suas mortes. Não somos melhores que eles, somos iguais, com a simples diferença que eles se destroem porque acreditam em suas verdades, e nós por que insistimos em cultuar nossas mentiras.

Monique Pacheco
Professora e Bacharel em História pela PUC- MG
e-mail:moniquenajara.eu@ig.com.br

2 comentários:

  1. A palavra racismo aparece no texto em determinado momento entre aspas ("racismo"), por que o termo racismo é muito questionável, uma vez que não há concenso sobre o conceito de raças.

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  2. Texto muito bom. Somos racistas sem perceber, em pequenas atitudes, como por exemplo, se estamos em algum lugar sozinho e um negro mal vestido se aproxima, ficamos com medo de sermos assaltados. Mas, se for uma pessoa clara e bem vestida, isso não ocorre.

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