Ontem, em um momento de raiva ao perceber o podre jogo da
mídia em querer manipular as manifestações e fazer dos manifestantes joguetes,
meu primeiro impulso foi aconselhar à todos a não mais participar desses
movimentos. Admito, estava errada, não é esse o caminho, é impossível nesse
momento que grupos politizados e bem orientados abandone as lutas, até por que
isso, as deixariam ainda mais nas mãos de grupos fascistas e reacionários. Após
me aconselhar com pessoas cuja opinião respeito, ler, e me informar mais sobre
como de fato esses movimentos estão acontecendo, percebo, que não dá mais para
voltar á traz, o que nos resta agora, é tentar orientar as massas, que loucas
saem ás ruas sem propósitos claros, a entenderem o real motivo das
manifestações. Mas, qual é o real motivo? Isso não ficará claro enquanto não
abrirmos espaço para uma manifestação clara de idéias partidárias. Juro, eu
também já achei que eram nos partidos que repousavam as origens de nossas
desgraças políticas, em um tempo em que eu simplesmente queria mudar o mundo,
sem querer saber de fato, como o mundo era. Hoje está claro pra mim, não é
assim que “a banda toca”. Os partidos são o símbolo maior da democracia, é na
idéia de partido que conseguimos “organizar” a sociedade em grupos afins e
definir de forma clara, como as pessoas pensam, o que de fato elas defendem.
Por que afinal, elas lutam. As nossas mazelas políticas não são fruto dos
partidos, mas da falta de uma legislação política que os deixem agir de forma
clara e ideológica. Impedir a presença de bandeiras de partidos nas
manifestações, não impede a presença e os objetivos desses, mas os disfarça em
meio à massa. Coloca neonazistas, defensores da ditadura militar, e fascistas
de todas as vertentes, nas ruas, ao lado de verdadeiros militantes da
democracia e de defensores de uma sociedade igualitária. Penso que nesse
momento, para que a vida da imprensa em tentar manipular a opinião pública
fique um pouco mais difícil, e essas manifestações tenham um caráter claro, é
hora de TODOS OS MILITANTES DEFENDEREM REALMENTE SUA CAUSA, E LEVANTAREM SUAS
BANDEIRAS, AINDA QUE SUA CAUSA SEJA O ANARQUISMO. É necessário que as cartas
sejam postas sobre a mesa, e esses movimentos tomem seus verdadeiros rumos, sem
ficar usando da população bem intencionada, em uma “Marcha com Deus e pela
Família” velada. É pra continuar a
manifestar? Então que cada um assuma as cores e as caras de seus partidos, e
parem de se esconder atrás de discursos vagos, e objetivos amplos, e tenham um
foco, claro, de uma luta dentro dos padrões verdadeiros de democracia. Ou você
quer continuar lutando ao lado da juventude PSDB, ou de skinhead’s e
reacionários? Não se iluda, não estão todos pela mesma causa, nunca estão. Pra
defender a sua causa, você tem que lutar ao lado dos seus, ou será apenas
soldado de guerra, de uma luta que não é sua.
ESTE BLOG TEM COMO OBJETIVO PARTILHAR ALGUMAS OPINIÕES, CRÍTICAS E REFLEXÕES SOBRE DIVERSOS TEMAS COMO, EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E POLÍTICA, SEJAM BEM VINDOS...
QUANDO ALGUÉM PERGUNTA A UM AUTOR, O QUE ESTE QUIS DIZER, É POR QUE UM DOS DOIS É BURRO.
MARIO QUINTANA
MARIO QUINTANA
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Diálogo entre um Manifestante imbecil e um ambulante com grande espírito de empreendedorismo:
Manifestante: Oi moço,
o senhor tem água aí?
Ambulante: Tem sim,
água, cerveja, refrigerante, tem coca zero também, pra quem tá de dieta,
energético e Gatorade.
Manifestante: Legal, to
vendo que o senhor tem bastante opção de produtos né? Tem cartaz também?
Ambulante: Tem sim, vários, é só
escolher, tem esse aqui, “Abaixo a PEC 37”, tá saindo demais viu. Tem esse aqui,
“Queremos hospitais nos padrões FIFA”, “Transporte gratuito já”, “Fora Dilma”,
“Fora Hulk”, “Fora Felipão”, “aha uhuhu, Feliciano eu vou comer seu bolo”...
Esses aqui são feitos exclusivos para essas manifestações, agora, eu to fazendo
uma super promoção com esses cartazes que sobraram de outras manifestações
passadas: “Fora Collor”, “Pão, paz e terra”, “Todo poder aos sovietes”,
“Liberdade ainda que tardia”, ou ainda nessa pegada de liberdade temos esse:
“Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, e um que nunca sai de moda, é esse do
Che Guevara: “Hay que endurecer, pero si perder la ternura jamás.” Esse inclusive, se
você tiver cuidado, pode guardar para outras manifestações futuras. E para a
galera do estrangeiro que veio aí curtir a Copa, e tá aproveitando pra
participar das manifestações, nós temos essa aqui também, que é ótima: “There
are only twenty cents”. E claro, agente
também tem a opção de camisetas silcadas.
Manifestante:
Camisetas?
Ambulante: Sim, temos
várias, para quem é mais magrinho, tem essas aqui, com trechos do Hino
Nacional, pra quem é um pouquinho maior, tem umas aqui com poesia do Gonçalves
Dias, tem com música do Cazuza, agora pra moçada plus size, tem essa aqui com a música Faroeste Cabloco, que tá fazendo
o maior sucesso.
Manifestante: Legal,
essa aí do Faroeste Caboclo vem com a foto da Ísis Valverde?
Ambulante: Não, não
vai, mas se você quiser, o meu amigo ali de dread, que tá fazendo tatoo de hena
na galera, é irmão meu, tá colado com nós aqui, ele desenha super bem, faz o
desenho na camiseta. Tem também tatoo de tiro de bala de borracha, fica ótima
na foto e a gente passa tudo aqui, na mesma maquineta de cartão.
Manifestante: Ah,
tatoo de hena, uai, gostei demais aí, faz de tudo?
Ambulante: De tudo, tá saindo muito aí frases, como já te
falei, as frases estão muito na moda, mas, faz rosto também, agora mesmo tem um
chegado fazendo a tatoo com a cara do Joaquin Barbosa, se sabe né? O cara virou
herói, depois daquela do mensalão. Tá bombando. E também tá colado aqui com a
gente o chegado ali, que faz serviço tipo de lambe-lambe, sabe lambe-lambe?
Então, ele tira foto aí, de você com sua galera, empresta bandeira do Brasil,
ajuda a fazer uma pose legal, e posta no facebook na mesma hora com uns dizeres
bem legais, é só você dizer o que que tá defendendo, ele faz um trabalho de
primeira aí.
Manifestante: Como
assim, o que eu to defendendo?
Ambulante: Uai cara,
sua causa, qual que é?
Manifestante: Ah sei
lá cara, umas coisas assim tipo, to lutando contra essas coisas erradas todas
aí sabe, esse país é ridículo, tem que meter o pé em tudo.
Ambulante: Entendo,
entendo, o senhor não tem uma causa exclusiva, tá lutando contra tudo?
Manifestante: É tipo
isso.
Ambulante: Bacana,
tem uma galera grande aqui assim. Então, pra esse tipo de luta ele posta sua
foto com umas frases bem legais, tipo: “Pelo fim da corrupção”, ou “Pela paz
mundial”. Eu não sei se o senhor sabe, mas esse negócio de foto de manifestação
no face, faz o maior sucesso com as gatinhas né? Pois é, as mina andam
engajadas, nessas lutas, é essa moda aí de sustentabilidade né? Cê fraga né?
Essa parada aí de sustentabilidade né?
Manifestante: Hum,
frago sim.
Ambulante: Agora, se
o senhor gostar de uma coisa mais VIP, aí a gente pode fazer uma super promoção viu. Eu tenho aqui esse abadá todo
trabalhado em TNT, e se o senhor, posso te chamar de senhor né?, então, se o
senhor comprar o abadá, a gente ainda te escolta até lá na frente, onde estão o
povo da televisão, lá não tem como o senhor não sair no Jornal Nacional, é
certo, e ainda ganha de brinde esse cartaz: “Mãe, to na Globo”, ou “Galvão,
filma eu”, é só escolher.
Manifestante: Área
VIP? Uai, gostei. Tem famoso lá?
Ambulante: Famoso,
famoso não têm , mas tem uma galera lá, que serão os próximos candidatos á
vereadores e deputados nas próximas eleições né? Então, se o senhor quiser, já
pode contar como famoso.
Manifestante:
Verdade, seria legal sair em uma foto do lado desses caras né?
Ambulante: Sempre é
né. Tem que ter visão de futuro né?
Manifestante: O
senhor tá certo.
Ambulante: Tô
aprendendo muito aqui, tem uma galera universitária muito bacana, já
aprendi umas palavras bem difíceis, bem legal, o senhor sabe né, temos que ser
pragmáticos. O senhor sabe o que é pragmático não sabe?
Manifetsnte: Hum, que
mais o senhor tem aí?
Ambulante: Uai, tem
vinagre, tem máscara de carvão ativado, tem apito, e tem caxirola, a caxirola
inclusive to em uma mega promoção. O senhor compra duas e leva três. Caxirola
ficou barato né, a FIFA mandou proibir a caxirola nos estádios, então deu uma
caída no preço, o senhor sabe, né, lei da oferta e da procura. Então, e se o
senhor quiser algo mais revolucionário, eu não, Deus que me livre, eu não mexo
com essas coisas, mas, o meu amigo ali, da tatoo de hena, vende aquele negócio
sabe? O orégano que o capeta tempera pizza? Sabe? Já vem enrolado e tudo, pro
senhor não ter trabalho.
Manifestante: Tá, eu
vou querer sim, e me vê também, três cartazes, dois abadás, um camisa do
Cazuza, três tatoos, cerveja, refrigerante, água, e duas caxirolas,a terceira é
brinde né?
Ambulante: É sim
senhor.
Manifestante: Beleza,
quanto dá tudo?
Ambulante: Depende, o
senhor é de direita ou de esquerda?
Manifestante: Como
assim?
Ambulante: Não, por
que quem é de esquerda, tem desconto né. Afinal a gente tem que defender quem
defende a gente, o senhor não me leve a mal, mas, cada um defende o seu lado né?
E eu to aí apoiando a galera da esquerda. Se o senhor for de direita, aí o
preço é o mesmo, sem desconto, mas também sem desonestidade. O senhor é de
esquerda ou direita?
Manifestante: Eu...
não sei moço, eu sou de centro.
Ambulante: Gostei do
senhor, é honesto, podia até tentar falar que é de esquerda pra ganhar o
desconto, tá na cara que não é, mas, podia ter mentido. Como o senhor é de
centro, e não mentiu, eu vou tentar te ajudar, te dou mais uma caxirola, e
parcelo tudo de seis vezes no Visa ou o Mastercard, te ajuda?
Eu quero a Copa.
De tudo, o que mais me intriga em todas essas manifestações é
a afirmação de que NÃO queremos COPA. Não? Não queremos? Desde quando? Quem
afinal não quer? Quer saber? EU QUERO. Não, não gosto de futebol, mal sei falar
o nome de cinco jogadores da seleção, alias, tenho um discurso muito elaborado
sobre como a cultura do futebol tem, na minha opinião, prejudicado em muito a
educação no país. Mas, não é isso que vem ao caso, eu quero dizer, que quando
se falou em o Brasil sediar a Copa, eu fui contra, sim, fui, não ví nada de
positivo nisso. Eu e um monte de gente, mas não me lembro de ninguém na rua com
um cartazinho nas mãos escrito "Não queremos Copa no Brasil", mas
agora, a mídia tem gastado muito de seu tempo
para dizer que o brasileiro não quer a Copa no Brasil.
Não quer? Quem não quer? Agora, que rios de dinheiro já saíram dos cofres públicos, COM O NOSSO CONSENTIMENTO? Eu acho tudo muito engraçado.
Quando se cogitou Copa no Brasil, os grandes empresários, os grandes milionários
TODOS, comemoraram felizes os grandes lucros que teriam, e agora, esses mesmos,
por meio da grande mídia querem convencer o povo a sabotar a Copa? Porque?
Ninguém para pra se perguntar sobre isso?
Então deixa eu explicar algumas coisas básicas. A primeira é
que sim, existe uma grande diferença entre esquerda e direita, quem tenta negar
tudo isso, é simplesmente essa burguesia endividada que tem a vida toda
financiada, e se sente muito melhor do que quem recebe Bolsa Família, e apóia
governos de direita e de esquerda de acordo com suas conveniências sociais. Mas
sim a DIREITA existe, e ela representa os desejos de pessoas RICAS, muito
RICAS. E essa é a outra coisa que eu queria dizer. Não, ricos não existem só na
televisão. Eles existem de verdade, eles mandam na televisão, e eles são mega
unidos, muito unidos, por que diferente de muitos dos árduos defensores do
marxismo eles já entenderam que a vida é uma eterna luta de classes e eles
sabem muito bem, de que lado dessa luta eles estão. E pode acreditar, não é do
seu, beneficiário do Bolsa Família, não é do seu, classe B endividada, não é do
meu trabalhador pobre. Eles estão do lado deles. Pois bem. Se a Copa não acontecer, quem
ganha, não sou eu, (trabalhador pobre), não é você (trabalhador burguês), muito
menos os ainda mais pobres, quem ganham são eles, os grandes milionários,
acredite, eu sei o que estou dizendo.
Pare pra pensar um minuto, só um minuto. Nenhum hotel,
nenhum estádio, nada foi construído com dinheiro privado, foi tudo construído
com dinheiro público. O meu, o seu, o de todos. Os grandes milionários financistas
desse país, não apostaram NENHUM centavo nessa Copa, se a Copa não acontecer,
quem fica no prejuízo? Quem? Você acha que eles (os grandes milionários), irão
pagar pelos prejuízos dessa Copa? Há, há, há. Não, eles não vão. Eles irão
alegar que foram vítima do caos, que interessante um caos. O caos é sempre uma
grande oportunidade de enriquecimento, sobretudo pra quem já é muito rico. Se
ninguém sabe ainda, eu vou explicar como um rico fica rico, um rico fica rico,
aproveitando oportunidades, se as oportunidades não vêem, eles podem muito bem
criar uma. Mas, vamos voltar ao assunto. Se a Copa não acontece, esses
milionários, além de não devolverem o dinheiro para os cofres públicos, ainda
nadaram de braçada na desvalorização imobiliária louca que irá acontecer. (Outra
regrinha básica sobre como os ricos ficam muito mais ricos, eles compram muito
barato, e vendem muito caro). Não, não estou sendo fatalista, é só um aviso, se
você fuder com a Copa, estará fudendo com você mesmo. Por que não, burguês
endividando, você não vai conseguir comprar hotéis e estádios baratos, por que
por mais barato que eles estiverem sendo vendidos, não, o seu cartão de
crédito, não terá limite para comprar. Entendeu? E claro, vai fuder com a vida
do pobre, (eu e a grande maioria da população), ou vocês acreditam que esse
rombo nos cofres públicos vai beneficiar a criação de escolas e hospitais no
Padrão FIFA?
Acorda gente. O povo quer Copa sim. O povo é o maior financiador
da Copa. Não caiam nesse papo, parem de se comportar como zumbis acéfalos,
escutem a voz da razão, em meio ao caos, o rico só tende a ficar ainda mais
rico, e o pobre, muito mais pobre. E outra coisinha, só pra esclarecer, você
não é rico. Você, burguesinho classe B de vida financiada, não se iluda, você
não é rico.
sexta-feira, 14 de junho de 2013
SIM EU SOU A FAVOR DA AMPLA LEGALIAÇÃO DO ABORTO, e quero
deixar isso claro, assim mesmo em letras garrafais. Sim, eu defendo a ampla
legalização do aborto, não por ser contra o direito a vida, ou por achar bacana
fotos de fetos jogados em esgoto, como tantos adoram publicar em redes sociais.
Eu sou a favor da ampla legalização do aborto, por que A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO
É UM GRANDE PASSO NA BUSCA DO RECONHECIMENTO DA IGUALDADE ENTRE HOMENS E
MULHERES. E não, não estou falando nenhum absurdo, e não, não estou possuída
pelo diabo. A gravidez indesejada ainda é uma punição que apenas a mulher
recebe pelo ato sexual irresponsável. E sim, se estamos falando de um filho
indesejado, fruto de uma relação sexual desprotegida, que só à mulher vai caber
educar, cuidar e proteger por força de lei, então, sim, estamos falando em
castigo. E não, não estou sendo radical demais, e nem desumana. Desumanas são
as nossas leis sexistas. O mesmo país que proíbe o aborto é o que garante por
lei o dever legal, dos pais zelarem pela educação, saúde e segurança de seus
filhos. Dos pais, quais pais? Apesar de a lei falar sobre a educação legal dos
pais, a nossa cultura machista está sempre cobrando das mães, e apenas das mães
o dever moral de zelar pelos seus filhos, sejam eles desejados ou não. O que
seria justo, muito justo, se essa cobrança fosse feita à ambos genitores. O
homem pode simplesmente se eximir da obrigação, afinal, não existem leis que
obriguem a qualquer homem amar, educar, e proteger seus filhos. Ou alguém acha
que a obrigatoriedade do pagamento de pensão obriga algum homem a participar da
criação de seus filhos? Conheço vários homens que tem filhos fora do casamento,
e contribuem com apenas com o valor da pensão estipulado ao juiz, mal se
preocupa em se lembrar do dia do aniversário da criança. Oras, a ele foi dado o
direito de não querer aquele filho, e à mãe? A ela foi dado esse direito? Se
ela iria optar por gestar, gerar, criar e amar essa criança, é outra questão. A
pergunta aqui é: Por que a ela é negado o direito de decisão. E não sejamos hipócritas
em dizer que a mulher tem um dever moral de olhar e zelar por suas crias, por
força de seu “instinto materno”. Isso é hipocrisia, vivemos em uma sociedade
que se diz “civilizada” onde se encaixa o discurso sobre instintos no “planeta
homem”? É pra falar de instintos? Então tá, e o instinto de preservação da
vida? O instinto de preservação da espécie?
As mulheres são as únicas responsáveis morais por manter a vida no
planeta? São elas que, querendo ou não, precisam dedicar sua vida à criação de
um ser humano e manter a vida no planeta? Não, eu não sou um monstro, e não
detesto crianças, pelo contrário, tenho considerado bem pontualmente, e bem
apaixonadamente a idéia de ter um filho, uma vida, um fruto de um
relacionamento verdadeiro, que eu possa amar, educar, e passar um pouco dos
meus valores, como forma de minha continuidade e continuidade da vida de meu
parceiro no planeta. Mas não, não são as paixões e os acalorados discursos
religiosos que devem servir de base para uma discussão política e social tão
importante. Estamos falando em IGUALDADE de direitos. Estamos falando em uma
sociedade em que a mulher deixe de ser apenas escrava de homens e filhos, em um
sentido global e seja senhora de seu destino, com direitos e deveres iguais. Só
teremos uma sociedade igualitária quando a sociedade olhar para os homens e
dizer: “TOMA QUE O FILHO TAMBÉM É TEU”. Enquanto esse dia não chega, cabe à
lei, dar à mulher a mesma possibilidade que a cultura dá aos homens, a de
simplesmente escolher não ter o filho indesejado. E isso é fato. Mas, se por
acaso, você se recusa a abrir sua mente para o reconhecimento de que essa
impossibilidade legal ( de não querer uma criança) abriga um legado de
injustiças, pense um pouco na crueldade de uma lei, que obriga uma mulher
vítima de estupro de gerar, zelar, e principalmente AMAR, o fruto de uma
violência, de uma relação não consentida. Ou alguém acha que não existe na
obrigação legal de cuidar de uma criança, a obrigação de amá-la? É possível a
uma mãe criar de forma saudável um ser humano, criá-lo de forma a estar apto à
conviver com o outro em sociedade, sem uma verdadeira relação de amor? E o pai?
O estuprador? Qual legado vai levar dessa violência além do prazer momentâneo e
a, comumente, sensação de impunidade? Desde o início da construção de nossas
sociedades, a mulher é contabilizada junto à bois, vacas, e escravos, como
propriedade. Uma mulher vítima de um estupro era, na antiguidade, morta, ou
abandonada à prostituição. E hoje? Quantas mulheres são estupradas e não tem
coragem nenhuma de contar para alguém para que não lhe seja perguntado de forma
condenatória sobre a roupa que estava vestindo, e sobre o lugar onde estava
andando. Quantos estupradores, lançam todos os dias, mulheres à prostituição,
ao abandono, à miséria? Após algum tempo um estuprador, pode se livrar de seu
passado violento, ou pelo menos disfarçar sua índole agressora. Muitos se
casam, tem famílias, se convertem para determinadas religiões, tornam-se verdadeiros
bastiões da moral e dos bons costumes. E a vítima desse estupro, que carrega em
seus braços o filho de um homem que não conhece, que mal sabe onde está andando,
o do qual só tem lembranças de horror? Quem livra essa mulher do estigma de
estuprada? Quem apagará da vida dela a sua condição? Quem zelará pela sua saúde
psicológica e a de seu filho? O Estado? Com seu salário mínimo, com uma “indenização
estupro”, ao qual muitos ainda se levantam para condenar com o discurso podre: “Ah!
Agora um monte de mulher vai falar que foi estuprada só pra receber pensão do
governo, até eu queria ser mulher agora”. Eu quero que alguém me responda o que
existe de humano em uma lei que pune uma vítima de estupro. Uma lei que condena a mulher simplesmente por
ser mulher. Onde está o respeito à vida? Esse tipo de lei, só mostra o óbvio, a
intolerância sexual. O reconhecimento da superioridade de homens perante
mulheres. E não me venham falar das mulheres que legitimam esse reconhecimento,
por que é historicamente sabido que o dominado, por força de opressão e por
repetição ideológica, acaba, muitas das vezes, se apropriando do discurso do
dominador. Mas, eu NÃO, eu quero levantar aqui a minha bandeira e dizer, EU SOU
LIVRE, EU SOU HUMANAMENTE TÃO IMPORTANTE QUANTO QUALQUER HOMEM, MINHA VIDA
MERECE RESPEITO COMO A DE QUALQUER HOMEM, E EU EXIJO QUE A LEI RECONHEÇA ISSO.
Eu exijo uma lei menos machista e mais verdadeiramente igualitária.
Monique Pacheco
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